Prevemos a catástrofe da COVID-19 de 2021 utilizando IA e SIR — Parte 6

Caíque Coelho
9 min readMay 10, 2021

Em março de 2020 com o crescimento dos casos de COVID-19 no país, resolvi que gostaria de contribuir de alguma forma no combate da doença. Com formação em Ciência da Computação e nenhum conhecimento em ciências biológicas optei por seguir o caminho da estatística, publicando estudos na tentativa de alertar os cidadãos e o governo brasileiro sobre o perigo que estávamos enfrentando e sobre tudo que iríamos enfrentar no futuro. Todos os estudos foram publicados aqui no Medium e a parte técnica pode ser encontrada no Github:

Publiquei o primeiro texto no dia 20 de março de 2020, na época a grande preocupação internacional era o alto número de casos na Itália, porém, por mais que no Brasil tudo só estava em um começo, já era possível ver graficamente analisando os primeiros 23 dias da presença do coronavírus no Brasil e na Itália, que o começo da doença no Brasil já era pior que o começo na Itália e partindo do princípio que a tendência de evolução do vírus no Brasil fosse a mesma da Itália já sabíamos que teríamos um grande problema pela frente.

Os primeiros 23 dias do coronavírus no Brasil e na Itália
Os primeiros 23 dias do coronavírus no Brasil e na Itália

Na época todos começamos a conhecer a importância de medidas que deveriam ser impostas pelo governo, medidas as quais foram impostas em outros países como Nova Zelândia, Coreia do Sul, Vietña e Portugal que apresentaram resultados satisfatórios, não só na redução do número de casos, mas também na redução da mortalidade.

Com a possibilidade do lockdown ocorrer no Brasil tivemos a esperança de que alcançaríamos o controle da pandemia em breve. Porém o Lockdown não veio, muito pelo contrário vieram incentivos a políticas anti-vida, como o apoio a aglomerações e a resistência ao uso de máscaras, endossados por palavras como:

“É só uma gripezinha”

“Parece que está começando a ir embora essa questão do vírus, mas está chegando e batendo forte a questão do desemprego​.”

Não era preciso a OMS dizer que o lockdown era a resposta, nós já sabíamos disso desde 1918 com a Gripe Espanhola, o lockdown salvou sobretudo vidas, mas também salvou a economia de países, porém aqui no Brasil diversas figuras importantes foram contra o lockdown, utilizando como desculpa a economia e demonstraram não só a ignorância no assunto, mas também a falta da importância pela vida dos brasileiros, ao colocarem a economia antes da vida.

O lockdown não chegou e as previsões feitas pelo modelo de inteligência artificial utilizando o algoritmo SVM (Support Vector Machine) começaram a se confirmar, em 20 de março prevemos que os números sem políticas de controle iriam progredir exponencialmente desde o dia 20/03 prevendo 627 novos casos, em diante, 773, 953, 117, 1447, 1784, 2198, a matemática previa que em uma semana iríamos mais do que dobrar o número de casos, parecia uma estimativa irreal e longe de se alcançar, porém os dados não mentem e a tendência além de confirmada foi superada, alcançando em uma semana o impressionante número de 2554 novos casos.

Com a tendência confirmada e a capacidade do modelo SVR em se aproximar do comportamento real dos casos confirmados do Brasil, realizei mais 4 estudos até o dia 6 de julho de 2020.

No estudo Parte 2 publicado no dia 27 de março de 2020, novamente alcançamos predições utilizando o SVR muito próximas da realidade:

Por mais que o pronunciamento que vinha do cargo mais alto da republica do Brasil era de que o vírus estava indo embora, os dados e as previsões diziam o contrário. Não faltou ferramentas para que o governo pudesse tomar decisões baseadas em dados concretos, faltou competência!

No estudo Parte 5, publicado no dia 6 de julho de 2020, utilizei o modelo SIR(suscetível — infectado — recuperado), um modelo matemático simples que representa as doenças de transmissão direta para prever o comportamento da onda do coronavírus no Brasil, desde o começo até o fim.

Com a análise do modelo SIR no dia 6 de julho de 2020 escrevi a seguinte frase:

“Partindo do princípio que teremos apenas uma grande onda, teríamos o pico no Brasil daqui 8 meses, em março de 2021 e o controle mínimo da pandemia apenas em 11 meses, junho de 2021.”
Frease escrita em 6 de julho de 2020 em encurtador.com.br/ekpS2

Uma vez li uma frase de George Santayana que nunca mais esqueci: “Quem não conhece o passado está fadado a repetí-lo”. A matemática já anunciava o desastre, faltou a governança do nosso país ouvir a ciência e conhecer a história.

As previsões indicavam exatamente o que aconteceria se nada fosse feito, e o que nós recebemos foram ações e discursos que apenas potencializaram o que já era esperado. Hoje os dados já não servem apenas para alertas e previsões, eles servem como provas de que fomos governados sabendo exatamento para onde as políticas negacionistas iriam nos trazer, para 421 mil mortes!

Em 25 de março de 2020, Bolsonaro desacreditou no número de 200 mil mortes de brasileiros por COVID-19 e ainda chutou um número de 20 mil mortes para o mundo todo. É impossível pensar que nessa altura o governo já não possuía estimativas confiáveis, no fim, se formos ingenuos e pensarmos que o governo não possuía tal conhecimento, mais uma vez se confirma a ignorância e a falta de competência da administração atual, pois os dados já estavam disponíveis para todos.

Queríamos lockdown, queríamos salvar vidas, médicos, cientistas, ogranizações e instuições internacionais alertaram e instruíram. A desculpa de que o lockdown gera desemprego nunca colou, a desculpa de que o vírus estava indo embora também nunca colou, os dados não omitem a verdade, mas políticas mal projetadas sim.

E novamente o passado nos deixa uma lição, quando mostra que na gripe espanhola em 1918, os países que relaxaram as medidas de distanciamento social muito cedo, sofreram uma segunda onda igual ou pior que a primeira, comportamento o qual estamos vivendo no Brasil, com uma segunda onda mais contagiosa e mais mortal!

1 ano se passou e continuamos errando

Desde o primeiro estudo que publiquei, já chamava a atenção a falta de confiança no número total de casos, no começo faltava testes, depois vieram políticas com a intenção de mascarar os dados, até vimos casos de testes vencendo nos estoques do governo e por experiência própria hoje posso falar dos falsos-negativos.

Realizei o teste para COVID-19 no sistema público quatro vezes a pedido médico no período em que apresentei sintomas suspeitos, todos os testes deram negativos, com a desconfiança fiz o teste em um laboratório particular, confirmando a suspeita, eu estava com COVID-19 e nunca fui contabilizado. Ao tentar utilizar ao aplicativo Coronavírus SUS que permite informar um teste positivo e alertar pessoas que tiveram contato comigo fui redirecionado para o site http://validacovid.saude.gov.br/ no qual deveria conseguir validar o teste positivo, mas para minha surpresa o site não só diz que não há resultados de teste positivo para COVID-19 para mim, como também não me permite por exemplo sinalizar que eu tenho um laudo de teste positivo para COVID realizado em um laboratório particular.

A conta do total de casos nunca me levou em consideração e também não consegui alertar todas as possíveis pessoas que puderam ter tido contato comigo. Imagine quantos casos como o meu existem pelo Brasil.

Continuamos falhando para testar, falhando ao contabilizar e falhando na rastreabilidade do vírus.

Alerta: Não chegamos ao fim e estamos longe…

Não há necessidade de novas previsões para se mostrar algo que já conhecemos, pois ainda podemos aprender com o passado. O grande alerta que fica nesse momento é a chegada do inverno, uma vez que um estudo conduzido pela universidade Oxford conclui que o vírus pode se disseminar com mais facilidade em períodos de frio.

Se olharmos para o passado podemos ver que o pico da primeira onda ocorreu justamente na janela do inverno de 2020.

O que menos queremos é uma terceira onda, no entanto com o relaxamento do distanciamento social, com o negacionismo e a chegada do inverno, podemos ter uma combinação preocupante entre metade de junho e metade de setembro de 2021.

Por fim: A Realidade é um Pesadelo

No começo da pandemia mal conhecíamos alguém que havia tido COVID-19, parecia tudo um pesadelo a distância, com o decorrer da pandemia as coisas foram ficando mais próximas, começamos a ouvir histórias de pessoas próximas a nossos amigos que foram contaminadas, depois passamos a saber de amigos infectados e infelizmente o pesadelo chegou até a minha realidade e no dia 8 de março eu perdi o meu melhor amigo para a COVID-19, eu perdi o meu pai.

Quando comecei a escrever essa série de estudos em março de 2020, jamais esperava que daqui um ano entre os números de mortes pela doença, meu pai seria parte dessa estatística. Com a vacina existente, todas as mortes a partir de então passam a ser mortes em vão, sem sentido e que não deveriam ter acontecido. Temos um governo que negou os dados, negou a matemática, negou a ciência, negou a história e negou a vacina 11 vezes! Meu pai era saudável, sem comorbidades, novo e partiu muito cedo, sendo mais uma vítima fatal de uma governancia facinorosa.

Hoje o que fica é a saudade, mas sei que a saudade é o amor que continua prevalecendo.

A todos os leitores, eu imploro, aos que puderem ficar em casa, fiquem. Usem máscara, preferencialmente PFF2 ou N95. Lembrem-se, não existe tratamento precoce, mesmo sabendo da ineficácia dos medicamentos, no desespero pela cura meu pai tomou todo o Kit Covid e de nada adiantou. A única “cura” é a vacina!

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Caíque Coelho

A QA lover and App Developer on weekends and a Data Scientist on free time. Founder App Teste Eneagrama.